Minhas mãos não abraçam venturas.
Já não há venturas além do arco-íris.
Minhas mãos não aventuram: aturam.
Já tão desnaturadas, buscam ares vis.
Minhas mãos são sósias nada graves.
Mas traves, há muito desmascaradas.
Minhas mãos não aplaudem turbas,
após as curvas que teu corpo oferece.
Mãos sacanas: noutras ilhas buscam
rios, ruivas solares; outras Havanas.
Mãos que sonham paupérrimas rimas.
Puxo teus cabelos como caras crinas.
Mãos que mais sabem a pão de mel:
que arremedam aquela sala-de-estar
do bem-estar dos lábios do sol no céu.
Mãos cansadas, velhas, rotas, árticas;
que arremessam o pão e alimentam,
na rua, circos e fogueiras fantásticas.
Mãos que sempre roubam e amam,
com fome, a mais próxima fêmea.
Mãos que aliciam e amam, sem nome,
irmãs safadas, acesas, atentas à noite!
(Mãos que, alertas, apertam outras)
Mãos que desatam nós e gargantas;
que caçam palavras em vastas ravinas.
Mãos que desobedecem e aquecem
cascatas, flores e pernas - vão açoite!
Mãos que reconhecem o corpo alado,
planícies, portos e rostos além demais.
(Mãos que afogam as datas marinhas)
Assim, como quem não quer nada:
entre uma e outra suave braçada.
*Jairo De Britto, em "Dunas de Marfim"
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