Crise

Por causa dos ilusionistas é que hoje em dia muita gente acredita que poesia é truque...

Mario Quintana - Sapato Florido, 1948.


quinta-feira, 21 de novembro de 2013

LUA, MADRUGADA E MORTE*


Eu olho para a Lua quase todos os dias. Ontem eu olhei, mas rapidamente. O singular Eclipse invadiu minha atenção, descaradamente, pelos telejornais. Três planetas alinhados (!) atrairam e distrairam astrônomos e leigos mundo afora! Compreensível (claro) que o fenômeno tenha sido celebrado, estudado e "traduzido" também por muitos astrólogos.

***

Não fiquei supreso, alegre ou triste. Trata-se apenas daquilo que acontece e existe; do efêmero que nos chega e assalta durante a ausência de nossa mais arguta atenção ou simplória (que seja) intenção.

***

Eu olho com Ternura, Saudade (e mansamente) para Você todos os dias. Especialmente à noite, enquanto dorme. Embora tímido, romântico e sobre tantas coisas absolutamente cético, explico que não sou originalmente terno: Você me inspira Ternura!

***

E a Saudade, naqueles momentos, deve-se ao saber e sentir que a mulher que amo está assim: tão bem e distante; vagando em sonhos, transpondo precipícios, tateando no escuro ou sendo ofuscada por 'candeeiros' estelares - na vastidão de bilhões de galáxias! Ou que brinca com anjos, por entre nuvens azuis - em formato de animais que sabem a algodão doce.

***

Não me canso  de acariciar seu corpo, de velar e amansar seu sono. De, às vezes, apaziguar seus sonhos ao perceber quando um provável pesadelo se aproxima... Também com o sol a pino, eu procuro ouvir sua voz distante e quente. A voz da minha menina, filha, mulher, amante e mãe!

***

Quando lhe abraço, ou à distância me faço ouvir, você sabe perscrutar meandros do meu discurso e tato; percebe como estou, o quê se passa ou passou.

Quando me aninho em seus braços, é para quase sempre dizer-lhe o que não digo; para demonstrar-lhe a pura saudade daquilo que poderia ter sido - daquilo que poderá ser ou é...

***

Você se preocupa por demais com o meu "estar feliz"! Pois tranquilo lhe digo, sem orgulho ou medo, que vou ao Inferno e volto mais forte; que aos meus dias mais solenes e tristes devo a paternidade de ser mais que singular: eu busco a Beleza de todos os lugares, de todos os séculos, do Passado e Futuro.

Quero o Arco-Íris - o Pote de Ouro 'amarrado' numa das suas pontas; o inteiro Presente, a fauna, flora e gemas do Planeta que ora me acolhe. 

***

Aos 11 anos, descobri que era (e sou) uma Pessoa Noturna. À noite, raciocino melhor e mais rápido, escrevo melhor; observo e escrutino meu self com o mais afiado bisturi de que disponho: minha Língua/meu Verbo. Minha implacável autocrítica e as questões substantivas que, por entre ossos, sangue e estrelas, trafegam no multiverso há zilhões de milhões de milênios!

***

É muito bom chegar aos 50 sabendo que nada sei (Sócrates); que começo a me tornar o homem maduro que desejo ser quando aprendo a rir de mim mesmo (Goethe); de meus pequenos problemas que, com a lupa voraz do neurótico, amplifico - me culpo e castigo, inútil e bobamente -, em dias sombrios.

***

Gostaria de ter sido marceneiro, tipógrafo ou jardineiro. Gostaria de não ter sido tão vil e solerte quanto por vezes fui. Gostartia de aprender a mais perdoar. De encontrar homens com os quais pudesse conversar sobre sentimentos mais profundos ou mais confusos; mais prosaicos e profanos ou mais caros e metafísicos!

Bobagem. Falar com homens sobre Amor, Solidão e Morte (desta, inclusive, considerando-se Camus e a opção filosófica/existencialista pelo Suicídio), na sociedade hodierna, é praticamente um tabu; um pecado. Homens não falam, com outros homens, sobre tais "coisas"...

***

Mas, há um Oásis farto de alentos. Um rio em cio, com flora e fauna ricas em acalantos: as Mulheres, com sua afiada; afinada Intuição, sua augusta Sensibilidade. Elas, Atlânticas Amazonas, que emprestam seus sentidos todos e compartilham aquilo que a maioria dos homens considera 'nada' - além de um sanduíche de sandices!

***

Como vê, Querida, a noite é minha amiga; parteira de prosa e versos em línguas várias. É paciente, sabe que sou lento: sabe que "eu ando devagar, mas nunca para trás" (Abraham Lincoln). Aliás, Caranguejos não andam "para trás"!

***

Ao fim e ao cabo, o mais importante; a pura Verdade: eu quero a Beleza inteira das Madrugadas, da Morte e todas as Luas - que me iluminam enquanto tantos e quase todos dormem. E é bom que durmam. Para que este silêncio, e a Música de Debussy ("Clair de Lune" na agulha e veia), comigo reflita sobre a proposta do professor e filósofo espanhol Fernando Savater, em seu livro "Perguntas da Vida": 

***

"(...) É a consciência da morte que transforma a vida em assunto muito sério para cada um, algo que deve ser pensado. Algo misterioso e tremendo, uma espécie de milagre precioso pelo qual devemos lutar, em favor do qual temos que nos esforçar e refletir. Se a morte não existisse, haveria muito o que ver e muito tempo para vê-lo, mas muito pouco o que fazer (fazemos quase tudo para evitar morrer) e nada em que pensar."


***

*Jairo De Britto, em "Verdes Crônicas"
 (São Paulo/Capital, Brasil - 05/Maio/2004)

sábado, 21 de setembro de 2013

GOSTO DE VITÓRIA* (Crônica)


"Gosto das palavras que sabem a terra, a água, aos frutos de fogo do verão, aos barcos no vento; gosto das palavras lisas como seixos, rugosas como pão de centeio. Palavras que cheiram a feno e a poeira, a barro e a limão, a resina e a sol." 

 Eugénio de Andrade, em "Rosto Precário"

 Ela colhe flores, cata folhas, conchas e coleciona fotos de gaivotas e Andorinhas do Mar. Do mar que tudo permeia, que salga a Ilha de Vitória e as outras menores em torno. As flores, silvestres, são raras surpresas de fundo de quintal. As folhas, ela gosta das bem exóticas, ainda que nem todas caibam entre as páginas de seus maiores livros. As fotos, ela distribui em dezenas de álbuns de cores e propósitos os mais suaves.

Ela acolhe os amantes com cético ar de marinho Penedo; com a Pedra dos Olhos ávidos nem sempre de amor.

Ela os seduz nas praias, Camburi de costas ensolaradas! Usa armas, artes e manhas fatais: o sol, a lua, o sal, a melhor prosa ou a mais barata pornografia.

Ela os mantém submissos e ardentes com sábias e sacanas carícias de púrpura paixão; os enche de júbilo, decorando seus corpos com mãos de argila num alfabeto pagão.


 Ela observa os homens, mulheres e crianças como o vôo das gaivotas e andorinhas que desenham seu litoral. Na ponta da Língua, todos sentem sua Baía.

Ela imagina: "Como são livres, pobres e lindos! E como nem disso desconfiam!" Às vezes, tenta classificá-los como às gaivotas e andorinhas. Logo desiste: "Há tantas espécies de homens. Mais fácil tentar compreender os pássaros".

Ela gosta de andar por entre e ler os nomes de suas ruas e ladeiras, inventariá-las em letras góticas espalhadas em grandes folhas de papel schüller. Ali, onde com lápis especiais e ouro em pó, desenha, grava e recompõe seu casario, enaltecendo sua geografia.

 Ela sabe abrigar poetas, tolerar jornalistas e políticos, e guardar suas dúvidas sobre as reais intenções dos cronistas. Ainda assim, com sua geografia aviltada e seu Vento Sul atrevido, consegue entreter leitores sem maior cerimônia: enquanto cata conchas e folhas, enquanto colhe flores e reúne pássaros na gaveta.

 Ela é anônima - tamanha Baía não suporta mistério que o Manguezal não desvende. Está sempre presente e sabe aonde ir. No cais e nas praias, nos bares, nas escadarias e nos becos distribui seus passos e beijos salgados.

 Ela não tem medo de nada, sorri como poucas mulheres se atrevem; sonha folhas, flores, conchas, peixes e pássaros. Perto de homens, parece uma árvore: caule retorcido, galhos afagando o Vento Sul, raízes sugando a seiva dos séculos. Para crianças, se veste de nuvem redonda de azul e cara risonha. Às mulheres, oferece segredos de fêmea amorosa.

 Ela não é uma terceira pessoa - é Multidão quando grita! Não se acha tão bela e não se apaixona com facilidade. Quando acontece, mente: diz que não e se entrega.

Ela nunca me diz seu nome, não revela sua exata idade nem chora quando me despeço. Mas quando volto, quando revejo suas árvores, suas ruas, suas praças e pássaros; quando reencontro suas mulheres e ilhas, sempre me surpreendo! Eu não sabia que havia tantas espécies de andorinhas e gaivotas, tantas diversas cores, tantos humores alados. Também não sabia que ainda existiam mulheres, ilhas e cidades assim...

Jairo De Britto
 *Crônica publicada no 1º Volume da série "Escritos de Vitória" (1993). 
 Secretaria Municipal de Cultura e Esportes de Vitória, Espírito Santo - Brasil.
 Secretário: Joaquim Beato 
Coordenadora do Projeto: Miriam Cardoso

terça-feira, 17 de setembro de 2013

QUERÊNCIAS PATERNAS* (Crônica)

 [Tela de Alexander Averin]



I'm nobody______________________________Emily Dickinson
Are you nobody, too?
Then there’s two of us – don’t tell (…)
How dreary to be somebody!
How public, like a frog
To tell your name the livelong day
To an admiring bog (…)"

Quero tornar a ver as ondas, areia, rios e mar, que povoaram os pés dos sonhos
da minha infinda infância, quase de nada até agora bem dita.

Quero saber da história a começar pelo fim, sem medo de olhar pela janela do  
Trem Fantasma - nem de cair da Roda Gigante: aquele pôr do sol ainda repousa
sobre meus ombros. E sua lembrança envolve um pacto com o homem que comandava
a velha máquina do Parque de Diversões: parar, por pelo menos 10 minutos, no mais
alto ponto que chegássemos.

Queríamos ver horizontes sem cerimônias ou pressa; tornar a ver o sol morrer – cansado
de mais um dia por aqui iluminar e aquecer. E queríamos mais: ver o nem tão simples
e vagaroso romper da Lua, já em descarado alvoroço para toda a noite enfeitar.

Sei que você se lembra de nossas pequenas, grandes e fortuitas aventuras. Sim, porque
nossas viagens, gostávamos nós de fazê-las sozinhos. Como se, já então, soubéssemos
como haveria de vir a ser: uma Caixa de Tesouros reservada para guardar nossas todas
lembranças a dois. Só nossas, em únicos Tempo e Sabor.

Assim, seriam sempre mais saborosas que o melhor chocolate; que o mais quente
saquinho de pipocas; que os bichos de pelúcia que, a tiros, derrubávamos das prateleiras
dos Parques. Eu também me lembro que, quando tal ideia/aventura ia começando a surgir
em nossas cabeças, trocávamos olhares cúmplices...

Sabíamos que nada nos faria voltar atrás na escolha do nome que deveria ter nosso novo,
nada arisca, e querido filhote de cão. Assim foi com Delta, por exemplo.

Sabíamos que, em silêncio, pegaríamos nossas coisas e fugiríamos para uma praia
distante para ver e fotografar o Sol nascendo. Ou, para um hotel nas montanhas, à noite,
sem a ninguém avisar. Quando da Escócia, você já rapaz, lhe enviei um postal com rápidas
linhas, sabia eu como você iria sentir-se lá, no Sul da Califórnia (em Laguna Beach),
ao recebê-lo.

Há coisas que o Pai sabe. Há outras que o Filho sabe. E há as mais importantes: aquelas
que só ambos sabem! São os tais pequenos/grandes tesouros que, como a palavra  
Sabedoria, escrita na areia e apagada pela primeira das pequenas ondas, só nós vimos
surgir, desaparecer e sua razão compreender...

Agora, lhe digo: quando eu choro, soluço trovões! E quando escolho minhas armas, uma
é sempre daquelas espadas que descansam à beira de cercas ou muros (de São Jorge),
ou que dispostas estão na Távola Redonda.

Hoje, eu lhe digo: tenho chorado muito. Mas sei que, quando luto, enfrento dragões que
saltam do meu coração para os vales verdes: belos mas não menos escuros que aqueles
que atravesso ao voltar do Inferno!

Há anos não visito os Parques... E minhas “diversões” são tão diversificadas que há
muito já não merecem tal nome. Parques industriais invadiram meus olhos e vida sem
a menor cerimônia. E minhas mãos e mente servem a propósitos de guerras que nem
mais de santas se disfarçam.

Quando, e isso quer dizer todo dia, me preparo para lutar, sei que meu maior e mais
temível inimigo sou eu. Isso não me dá qualquer vantagem, como poderia um infante
supor.

Eu luto comigo; com um específico alfabeto! E minto sobre a enorme inveja, que sempre
escondo, de não ser capaz de a outros alfabetos enfrentar. Calo, quando tentam distrair
minha afoita vontade de ampliar espaços; de abraçar deuses que o próprio cínico pó da
História tenta esconder. Diariamente minto para continuar a acreditar que aquela
Infâncianão, nunca, jamais existiu.

Não! Nunca, jamais vivi tudo aquilo; aquele misto de cores, sabores, odores: olivas,
capim, benjoim, alface e alfazema, almíscar e Lua Cheia; as Águas de Março, os
riachos e tantos nomes de pedras e pássaros. E todos aqueles livros, tantos livros - que
uma vez fiquei tonto! Como peão de xadrez - ou aqueles, de som similar e grafia
diversa, aos quais se amarra um barbante e se solta no ar com a força da mão, nunca
mais voltei... Tonto de Saudade e Amor à Terra, engolir me deixei.

Hoje, eu lhe digo: olho para quase tudo com aquela enorme estranheza que a mim se
juntou, há séculos, como irmã - atada ao meu mais íntimo Ser. E quando luto, o faço
porquê nada mais me resta fazer. Tenho que combater o bom ou o mau combate; objeto
ou abjeto, quase nada mais importa, além das letras que junto – além das letras que
ajunto para, com as mãos em concha, chegar até você e lhe oferecer.

Meus filhos são meus outros dois alfabetos dessa matéria de almas que, ajuntadas,
chegam na hora certa de acertar contas com outras diversas dimensões. Eles são carne,
sangue, Alma e Verbo; a prima e única ideia de cada vez melhor ser – sem nada mais
a ninguém dever! Amém. 

*Jairo De Britto

Vitória, Espírito Santo - Brasil.
(13/Janeiro/2010) 

quarta-feira, 27 de março de 2013

SOBRE A POESIA*






Creio ser algo maior
– além de mera e fugaz
"matéria de sonho".
Algo quase tão
– insuportavelmente belo:

Quando em excelência
melhor cultivado;

Quando irrompe altivo
após chuva sobre o arado;

Quando não abriga ou tolera
riso, rima ou vereda menor!

Algo, sim – que nos alimenta
e salva da feroz vilania
do existir absurdo;

Da cotidiana demência.
Da cruel verdade e falácia:

Ambas – não privilégio
de tristes tempos nossos.

Algo que quase Tudo pode
abarcar – e que nada quer
ou pretende explicar:

Mas que, ainda assim,
sempre lemos levados por
curioso prazer – até o fim!


*Jairo De Britto,
 em “Dunas de Marfim”

domingo, 17 de março de 2013

ABOUT WORDS*




 
 
Every word
– even those
sometimes hidden
by hypocrisy

– has its place,
function and time.

None should be left out, when
whispered by your heart.

Every word
deserves to be spoken
or written,
whenever Truth
is to be told.

Fearless must we be
once standing before them:

Afertall, no one knows when
they’ll be the weapon needed
beyond Reason – on the front line!

However, remember to be truthful.

Being truthful, we’ll know
each one horror, desire and time
to be what they really are:

Either a hoax letter leaf
or a blessed awesome star!

*Jairo De Britto, in “English Poems”

sexta-feira, 1 de março de 2013

LEITURA ONÍRICA*


 
I
Sim, escrito estava
em telas alvas de silício;
grávidas de Sorte e Silêncio.

II
Sim, escrito estava
em frases formais, diversas
daquela à soleira da porta.

III
Sim, escrito estava,
mal ou bem, tudo sobre ele
– seus atos mais solenes e caros:

À flor da pele, toda a imensa
fome de Saber e Alegria – que,
com um sorriso, sua Dor cobria.

IV
Até então, eu supunha fosse
um Testamento;
uma Carta de Amor, um Alento.

V
Não! Descrito estava tudo lá.
Em única folha: lâmina em brasa
– bárbara, suficiente, definitiva:

Tudo e Todo Advento!

VI
Em profundo Silêncio, eu li.
Lá – inédito e inóspito,
num grito interrompido,
seu último Atestado:
de Óbito!


*Jairo De Britto, em “Dunas de Marfim

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

VÃS CONFISSÕES*


Não quero ou pretendo mais nada.
Tive, na minha idade, o suficiente
de alegria, decepção, dor e perdas.

Só gostaria de mais árvores, flores 
e alvoradas.
E, se possível, um mundo menos 
inclemente.

*Jairo De Britto,
em "Dunas de Marfim"

SUBSTANTIVO INTRANSFERÍVEL'*



O abandono não tem tempo
nem dono; não tem face:
não há ventania que o disfarce.

O abandono não tem o Tempo
como senhor; ignora a dor:
não diferencia alma ou cor.

O abandono não tem tempo
a perder; parece saber tudo:
o corpo que fere, o quê torna
o próximo espírito mudo!

O abandono não tem o Tempo
da Infância; cedo aprendeu dela
a exata e definitiva distância.

O abandono não tem o tempo
manifesto de forma clara: engana
sem mais saber; de ninguém tem rol
ou dó: falta-lhe um simples farol.

O abandono é substantivo, solitário,
vítima do assédio infante e vário:
só toma consciência do outro,
quando sob a terra já o tem morto!

*Jairo De Britto,
 em “Dunas de Marfim”

ON THE ROAD, WITH WORDS OF WISDOM*



If you want to write,
do it with the words of light.
If you want to write,
do it with the strength of life.
If you want to write,
do it with courage; be bright!
(Never be afraid of poor or fragile rimes:
they’re like ferns along quiet river’ sides)
If you want to write,
do it with your blood and heart.
(Don’t leave your sorrows or Truth apart)
If you want to write,
do it with your dearest dreams or most dreadful
feelings.
(Don’t worry: almost nobody will care about your
failures; losses or blessings...)
If you want to write,
do it with a short or long message full of wisdom.
(Words won’t count for the ones you hate or love:
only by those who read with the minds of a pilgrim)

*Jairo De Britto,
in “English Poems”

INÂNIME AUSÊNCIA*



Eu sempre chego atrasado.
Não às reuniões com outros executivos;
não para dos médicos ouvir mais motivos:
Chego atrasado quando devia Presença
àqueles que na minha Vida
hoje são amarga e solene ausência!


Jairo De Britto,
em "Dunas de Marfim"

A ESTAÇÃO DAS LÁGRIMAS*


Quando a Estação das Lágrimas chegar;
quando, diante do sal sobre seu rosto pairar
- e a exata hora do terrível dia vier arder;

Quando, atrás ou adiante seu coração doído,
vir o cortinado de trevas a esconder a luz
dos seus olhos castanhos, verdes ou azuis;

Quando, sob o par de óculos de sol de Paris,
ou de esquinas do mais ermo pueril lugarejo,
não for capaz de esconder seu Luto e Pavor;

Quando tal Tempo – sempre cruel, fatal
e inesperado, tornar seu rosto disforme,
toldando-o de dores infames e sem cor;

Quando seu mais caro e próximo parente
ou amigo, aquele do peito, na Primavera
da Juventude ou Inverno da Velhice se for;

Quando a Estação das Lágrimas invadir
seus olhos vivos, tornando-se senhora voraz
do seu infante ou vetusto completo Ser:

Não adianta conselheiros sair a procurar.
Não perca seu tanto ou escasso tempo
a lhes escutar; a maior atenção lhes dar...

Não dê, alma e ouvidos, às suas tantas e tontas
palavras. Não àqueles esmerados fanáticos
(e não são poucos), no tão solícito consolar!

Antes, busque aqueles (e são poucos) que,
com discreta, sóbria e solene humildade,
lhe sussurram a clara Harmonia do Silêncio.

Aqueles que, com simples e suficientes frases,
sem nada querer, ou tanto se fazer escutar,
antes do Abraço Silente dizem carinhosamente:
“Não sei o quê falar!”

Estes são aqueles capazes de lhe ofertar alento;
de dar-lhe o primo, mais caro; necessário Silêncio,
enquanto, e sempre, que a Estação das Lágrimas
cobrir seu rosto com a ausência do calor franco.

Estes são aqueles que hão de ajudá-lo a curar
suas feridas sem Sal – até que seus olhos tornem
a suportar o Sol – que para nem todos se levanta;
para aqueles que nem sempre os sinos dobram!

Estes são aqueles que, na Estação das Lágrimas,
saberão a exata medida do Abraço à Dor Alheia
sem jamais esperar ou aventar qualquer Gratidão.

Então, enquanto o rio receber o quê lhe cabe
da Estação das Lágrimas, em conduta a oceanos
vários, lembre-se que “Não sei o quê falar!”
diz Tudo que precisa ouvir durante o Abraço:

Tudo e Mais que irá aliviar seu cansaço; o peso
da sua Dor e Desespero – que, por anos, saberão
a fel e Amargo Desterro na Terra dos Homens.

Nada é mais necessário e sublime que isso; nada
melhor que, perdido no Tempo Efêmero da Vida,
lhe soará como acalanto capaz de a todos conceder
a Alforria da Terra!

Foi o quê aprendi da Estação das Lágrimas:
Tudo Preciso: na hora fatal da Lavoura Arcaica;
quando à Terra devolvi meus Pais e Filhos!

Além de, à distância, ‘dizer’ adeus à Senhora:
Aquela – última guardiã, cúmplice e escrivã
das minhas Memórias de Infância, Juventude
e Velhice: Madrinha e Operária da Luz...

*Jairo De Britto - São Paulo, Capital.
(25 de Outubro - 15 de Novembro de 2012)